quarta-feira, janeiro 04, 2006

A Quimera da Felicidade

Não gostaria de começar 2006 com um texto assim "pessimista" (vide abaixo "A Quimera da Felicidade"), mas acho que ele serve como reflexão sobre o que todos buscam incesantemente, mesmo sem saber e outros já desistiram....
O que é a felicidade? Como ser feliz?
Acho que nossa missão na terra é sermos felizes, mas esta felicidade deve ser algo divertido e ao mesmo tempo sério, profundo e cheio de sentido. Uma felicidade que não seja fútil e baseada em práticas que denigram o ser.

Conclusão disto eu não sei, mas continuo buscando... 2006 é o ano do verbo AGIR!!!

A Quimera da Felicidade

(...) do alto de uma montanha, inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma cousa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das cousas. Tal era o espectáculo, acerbo e curioso espectáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que não lhe podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, - flagelos e delícias, - desde essa cousa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das cousas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, - nada menos que a quimera da felicidade, - ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.

Machado de Assis, in 'Memórias Póstumas de Brás Cubas'  ( http://www.citador.pt/pensar.php?op=10&refid=200601030900 )

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Marco!!!
Acabei de ler o texto, realmente devemos pensar para que e por que estamos aqui!? Sempre estamos buscando algo que nos faça feliz, tentamos fazer coisas que nos dão prazer e alegria, mas nem sempre os caminhos para alcançar isso são fáceis, mas as dificuldades estão aí para fazer-nos encontrar as soluções, com isso amudurecemos!
Desejo que seus objetivos se concretizem e que realmente você busque a tão falada FELICIDADE!!! Beijão pra vc, se cuida !!!